E depois de ver escorrer por
água abaixo aquela esquizofrenia voluntária, finalmente era chegada a hora de
implicar com a política.
_ Pequenas farpas quotidianas! – pensava. _Pequenas farpas... A sensação de sentir enfadonhas todas aquelas coisas lhe era um incômodo que tornava ultrapassada qualquer filosofia lusitana. Era preciso superar as barreiras do tédio e alcançar ordinárias espécies de problemas quotidianos. Quem sabe estudar para o cargo de tabelião?
_ A troco de quê? Se seguisse a sua lógica acerca da eterna insatisfação humana certamente careceria de qualquer coisa que lhe conferisse pequenas doses de sentido.
_O pequeno resquício de sentido que abriga nosso ponto expediente não é o bastante para o que fomos... Cemitério de grandes pretensões. Quem sabe de acorrentados anseios.
O relógio invisível registrava as cinco horas daquela tarde de terça sem qualquer outra aspiração para além da novela das oito. A vontade de buscar a felicidade no casamento era uma parasitose atávica ou um vício social?
Fosse como fosse, o seu modo subjuntivo remetia à hipótese acovardada de não enfrentar o imperativo daquela realidade inevitável: oito horas por dia, quatro horas por noite, treze viagens inesquecíveis ao longo da vida e a hora da estrela de seu ponto final.
Post Scriptum: “Come cachorros-quentes, pequena; Come cachorros-quentes! Olha
que não há mais metafísica no mundo senão cachorros-quentes. Olha que as
religiões todas não ensinam mais que a datilografia. Come, pequena suja, come!”
(Paródia macabeica ou Tabacaria adverbial)
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