segunda-feira, 12 de outubro de 2009

O Desescrito

(ou o que provavelmente será em breve apagado)

Hoje pela madrugada ouvir um disco bom me fez querer "beijar a boca da noite", fazer com ela qualquer coisa absurda num ato libertino e impuro - mas livre! Não ousaria usar demais descrições pela discrição mesma que cobre o pudor que envolve esta minha redoma - de óleo ou de ácido; mas de fina casca, sempre fina casca.
Há tempos não encontrava a madrugada tão nua assim para mim como por ora - pouco importa o ponto expediente que me espera amanhã no horário sempre atrasado; arrastado. Hoje quero apenas a madrugada - adentro ou afora, não importa a direção. Hoje pretendo ser o foco da ação, ao mesmo tempo me sinto pacificamente agente, não sei.
Estou mais para música do que para poesia, nesta noite.
- Inacreditavelmente, estou mais para música do que para poesia, esta noite!
Ou talvez a poesia em forma de música tenha me feito prescindir um pouco das palavras e preferir, do contrário, trocar meu "mizinho" arrebentado na tentativa frustrada de entoar uma nova bossa. (ou bossa nada nova, tanto faz)
Eu trocaria meu "mizinho" agora e tentaria reproduzir o Drama que agora ouço.
Não estou dada às palavras, fato que soa demasiadamente claro na minha narrativa e que me entristece, de certa forma. Habito no verbo - bem sei. Ora pois.. ele não tem culpa de ter nascido insculpido na fôrma - e nem eu.
Mas talvez hoje eu esteja mais para música pelo simples fato de entender bem menos de música do que de verbo, talvez. Digo por estar sempre mais para sentimento - esta expressão máxima do meu analfabetismo. (sorriso meu, de lado - repetindo pra mim mesma a sina desta minha mania insólita de alforria - de quê, senhor, de quê?); enfim, talvez isto explique um pouco as coisas.
Apesar de viver graças à cadência triste e cansada da caixa acústica do meu peito hoje pretendo adormecer pedindo que me volte o verbo... (por que eu quereria?)
Dormirei entre as notas: mergulho notívago no universo pautado da escala diatônica - no verbo ou na música ainda não consegui me livrar deste ocidentalismo atávico.
Arriscarei alguns acordes dissonântes para ver se o verso brota.. se o verbo vem. Evitarei ao máximo a droga da rima de mera conexão acústica, tão enrustida na nossa mente pela indústria fonográfica indecente destes tempos de cólera.
(se aqui tivesse um espaço pautado talvez eu me saísse melhor nesta lamúria de hoje)
Silencio, por ora. O som depende do silêncio. O verbo também. Às vezes - e no mais das vezes - um suspiro diz mais que meia dúzia de palavras; mas acontece que ninguém conseguiu descrever ainda ao certo esta onomatopéia.
Onomatopéicamente me despeço -
(pausa de mil compassos)
Partirei em silêncio a procura do estribilho que deixei cair em algum lugar obscuro ao adentrar incisivamente esta noite.