quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Que assim fosse!

(Ou Pessoa, à minha moda)

Saisse eu correndo pela rua à procura do que nunca tive...
Cruzasse a alameda da minha covardia e caísse direto no vale sombrio do "Quem me dera!".
Tivesse forças, ora! Não fosse fraca. Não fosse estúpida o suficiente pra achar que esse papo de "lanterna na popa" é assunto pra economista.
Depois não vivesse a passar os dias sob uma nostalgia fundada num "ai se sesse".
E não fosse, como era de não se esperar.
E então não passasse os dias reclamando!
Reclamar a própria negligência não passa de uma forma de autocondescendência vil.
Mas que tomasse, então, uma providência!
Pra que não tivesse que caminhar pelo resto da vida num subjuntivo.
E que a vida não fosse resto, fosse travessia..
E que a travessia não se atravanvancasse na curva nenhuma de nenhum rio.
Ah, mas acordasse um dia tomado de muitas forças, pegasse a foice da coragem, atravessasse as barreiras de todos os gigantes e desse de cara com algumas dezenas de moinhos de vento!
E saisse satisfeita, por não ter mais de colocar a vida no bolso e caminhar pela rua, imprecisa.
E cantasse por fim meu auto-cordel profano, na toada de quem tem exteriores urbanizados sob interiores selvagens.
Mas, sesse?
Pois que assim seja! (Ah, quando eu for!)
Quem na pauta prefere os acordes menores costuma no verbo ser mesmo dado a subjuntivos.
Sub-imprecisos
Sobre-expressivos
Até que chegassem as rimas esparsas e fizessem brotar a raiva de quem estivesse na prosa.
Meta-nada, pois que então chegue!
Como quem botasse as sandálias nas costas e fosse embora pra casa.
Ao invés de sair pela rua a procura do que nunca teve...
Ao invés de dar com a cara no muro, pressionada pelo fantasma obscuro do "Quem me dera!"