quinta-feira, 5 de maio de 2011

Terça-feira, 17h15min


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(talvez um pouco menos...)
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É que ela não sabia mais escrever. Não apreendia a ficção, talvez porque não fosse capaz de compreendê-La. E por isso às vezes era tomada por uma vontade imensa de come-La. Não se sentia menos pura pelo desejo irresistível de devorar-lhe o cérebro.
Talvez quisesse, de fato, rasgar à unha aquela narrativa e romper o espeço perene que o seu pensamento espesso não adentrava. Queria o quotidiano inalcançável - dos bares, cafés e lugares por entre bocas, saltos e pêlos que lhe fizessem se sentir mais humana. Era larga a avenida mas havia uma via pela qual ela não transitava. Não porque não quisesse, mas pela proibição imposta pelo lastro de suas ideias cediças.
Sedenta que era, invadiu a fresta através da qual enxergava a porta. Como não houvesse mais porta, mergulhou de braços abertos no abismo daquele espaço infinito.