quinta-feira, 14 de abril de 2011

Anticredo



(...§...)



Contudo, é inverdade. Dois ou três minutos de silêncio diriam mais que sete anos de palavras inúteis. Porque a circunstância condiciona e é inimiga. Ortega y Gasset se fez sábio num clichê brilhante e em tom de provérbio. Mas se o parâmetro circunstancial dita a vida, de que nos servem meia dúzia de princípios inaplicáveis ("...y se no la tengo ella, no me tengo Yo")? Ser escravo das sensações efêmeras presas nas circunstâncias fugidias... Porque o tempo não muda nada, a não ser o ângulo da nossa percepção. Mas resta, de tudo, no fundo da água tingida de lama um cais de futuro preso num porto onde não há mais vida. Se é, pois, o fim do trajeto um momento tão almejado não há motivo que faça prevalecer a dor da mudança. A humanidade é uniforme e nem um pouco metafórica... o que faz com que todas as pretensões de inconstância se transformem em rígidas estabilidades de tédio. Todavia, não tiro razão de Heráclito e nem julgo inválido o seu desvario: Nenhum homem se banha duas vezes na mesma água mas o que muda, de fato, é o rio. No mais, mudam-se, com o passar dos anos, os parâmetros da lente do tempo. Mas presa em seu solilóquio a humanidade persiste, dia pós dia (invariavelmente a mesma), em suas rígidas instabilidades de tédio.

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